“O património É DE TODOS”

13 Mar
Na segunda fila na extremidade do vosso lado direito estão sentados os três autores deste blogue, respectivamente da dta. para a esq. Filipa Marcos, Hélder Mestre e Madalena Brandão.

Na segunda fila na extremidade do vosso lado direito estão sentados os três autores deste blogue, respectivamente da dta. para a esq. Filipa Marcos, Hélder Mestre e Madalena Brandão.

A sala do arquivo dos Paços do Concelho de Lisboa acolheu no passado dia 6 de Março, entre as 9h30 e as 13h, a conferência “O Património é de Todos: promoção da acessibilidade em espaços e edifícios históricos”.

Integrada no projecto Rampa/POPH/QREN – Promoção da Acessibilidade no Castelo de São Jorge, foi organizada com o apoio do British Council.

Os seus objectivos primordiais foram o dar a conhecer e discutir princípios, metodologias de intervenção e exemplos de boas práticas nesta área de acção.

A conferência contou com a presença do Dr.º Fernando Nunes da Silva, vereador da CML para a mobilidade, da Dr.ª Gillian Caldicott, directora do British Council em Portugal, da Dr.ª Maria Calado, professora universitária e antiga vereadora da CML nos pelouros da Cultura, Intervenção Cultural, e do conselho Municipal para a Integração das Pessoas com Deficiência (entre outras pastas), do Dr.º Miguel Honrado, Presidente do Conselho de Administração da EGEAC e, da Dra. Brenda Puech, a principal conferencista convidada, Directora de Consultoria do Centre for Accessible Environments (CAE) no Reino Unido.

Estiveram ainda presentes como conferencistas, o Arq.º Jorge Falcato Simões, do Núcleo de Acessibilidade Pedonal da CML, a Prof.ª Gabriela Carvalho e, as designers e investigadoras Lígia Lopes e Cecília Carvalho, mentora e colaboradora respectivamente do projecto “Design Includes You, sediado no Porto”.

O vereador para a mobilidade referiu na sua curta intervenção que a política de mobilidade da autarquia rege-se actualmente pelas seguintes linhas directivas: a promoção da mobilidade pedonal e, a redução do peso dos automóveis, também nas zonas históricas, tentando não acrescentar “mais obstáculos àqueles que já existem”, “sendo imprescindível “reequilibrar a balança” entre estas duas directrizes, para promover “equidade e justiça social”. Além do plano de acessibilidade pedonal e da promoção dos acessos aos equipamentos, o vereador assegurou o trabalho já desenvolvido pela CML com a criação das “zonas 30”, sob o mote “a rua é de todos”.

Na intervenção seguinte, a Dr.ª Brenda Puech referiu que existe sempre um grande conflito entre manter as estruturas históricas e simultaneamente torná-las acessíveis, adaptando-as o máximo possível, sendo que a solução deverá passar por reestruturar as partes do monumento que “não são sagradas” e que podem ser alteradas.

Dr.ª Brenda Puech
Dr.ª Brenda Puech

No entanto, sublinhou que é importante melhorar o acesso aos edifícios históricos para potenciar o seu usufruto, perpetuando desta forma a memória cultural que lhes é inerente.  Lembrou  ainda que todos os cidadãos são passíveis de alguma forma de limitação da mobilidade (e.g. gravidez, crianças, acidentados, perda de visão ou audição decorrente da idade), e que esse factor deve ser tido em conta na sinalética adoptada, com recurso a pictogramas adequados.

De seguida, esta conferencista apresentou alguns casos de estudo aplicados em Inglaterra, cujos princípios base para a melhoria das acessibilidades nestes edifícios assentaram na opção prioritária “por um único acesso”, e, no “desenho inclusivo, não segregativo” e a consulta aos utilizadores feita através da promoção do debate.

Os casos “exemplo” referidos foram respectivamente o Castelo de Edimburgo,  a Horse Guards Parade, o Royal Institut of British Architects, a National Gallery e a Trafalgar Square, a Queen´s House em Greenwich, e a St Paul Cathedral.

Lamentamos no entanto não ter a possibilidade de aceder e partilhar convosco as fotos que ilustraram a apresentação, e que tão bem demostraram estes casos de sucesso na aplicação de acessibilidades a monumentos britânicos com tão grande história e notoriedade.

Desta forma salientamos apenas por escrito dois dos exemplos de acessibilidade referidos.

 – St Pauls Cathedral: Neste monumento emblemático da capital londrina, foram efectuadas obras para tornar o monumento e a sua envolvente plenamente acessíveis para todos. Uma entrada com rampa, acessível, discreta, bem integrada (coerente com a construção já existente) e bonita, foi construída numa das laterais da Igreja depois de efectuados extensos estudos arqueológicos ao solo deste local, o que verificou a existência de vestígios de ruínas antigas, que simultaneamente foram recuperadas aquando destas obras. Neste momento, a cúpula é o único espaço que não é totalmente acessível, nomeadamente a pessoas com mobilidade reduzida.

Foto de St. Paul´s Cathedral retirada do google e onde não podem ser visualizadas as adaptações acessíveis.
St. Paul´s Cathedral
(foto retirada do google e onde não podem ser visualizadas as adaptações acessíveis).

– Na Queen´s House (Greenwich): os terrenos fronteiriços foram rebaixados e construída uma entrada subterrânea, por entre as escadas já existentes, com um elevador para aceder ao primeiro piso. A nova entrada acessível resultou numa obra discreta, bonita, coerente e original, mantendo a escadaria pré-existente, como pode ser comprovado pela seguinte foto.

Queen´s House (Greenwich)Foto retirada do google
Queen´s House (Greenwich)
Foto retirada do google

A intervenção da Dr.ª Brenda foi comentada de seguida pela Drª. Maria Calado que referiu que “falar de acessibilidade é falar de inclusividade”. Para esta conferencista, a resolução dos problemas de acessibilidade em Lisboa é um desafio complexo, no entanto, “é preciso fazer do património um direito de todos”, tendo em conta que “os planos de acessibilidade devem ser  também planos de valorização”, conjugando coerência, beleza e inteligibilidade, porque todos os cidadãos “têm direito a compreender o património”.

A conferência prosseguiu com um painel de oradores que abordaram diversas questões relativas quer às presentes acessibilidades oferecidas no acesso e interior de um dos monumentos mais visitados em Lisboa, o Castelo de São Jorge, quer às possibilidades de adaptação deste ícone e sua envolvente.

A Prof.ª Gabriela Carvalho discursou sobre as características patrimoniais do monumento, o Arq.º Jorge Falcato abordou os princípios gerais do design inclusivo e referiu as acessibilidades físicas ao Castelo e ao seu interior, enquanto Lígia Lopes e Cecília Carvalho finalizaram com uma exposição teórica sobre as acessibilidades de conteúdos em geral.

No final da conferência o Arq.º Falcato Simões falou à Lusa e declarou que “apenas 25% das ruas de Lisboa têm uma inclinação superior a 6%”.. “o que acaba com o mito de que as vias lisboetas são muito inclinadas”…”na zona do Castelo de São Jorge é que há, como é natural, muita inclinação e mau pavimento”, o que dificulta o acesso àquele que é o monumento mais visitado no país. Acrescentou ainda que “é preciso cuidar dos pavimentos. A calçada portuguesa é um mau pavimento. Há que estudar outras alternativas”.

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A posteriori soubemos que no dia imediatamente a seguir a esta conferência foi efectuada uma visita ao Castelo com a presença da Dr.ª  Brenda Puech, que identificou algumas situações impeditivas de uma acessibilidade plena dos visitantes a este monumento, sugerindo nomeadamente soluções mais adequadas para a promoção de acessibilidades plenas aos visitantes com mobilidade reduzida.

A especialista do Centre for Accessible Environments deteve-se ainda nalguns pontos-chave identificados como problemáticos, explicando quais as soluções e medidas mais adequadas a adoptar para solucionar estes casos. Referiu ainda que embora o castelo esteja apetrechado com os meios necessários para a circulação de pessoas com dificuldades de mobilidade cumprindo as regras exigidas na lei, na sua opinião, poderão ainda ser introduzidas melhorias quer ao nível do empedrado quer nos acessos às muralhas de modo a possibilitar a todos o desfrutar da beleza deste ícone da cidade.

À margem da visita Brenda Puech revelou ainda que considera Lisboa uma cidade belíssima, e ainda que ofereça algumas dificuldades à circulação resultantes da sua irregularidade topológica, é uma cidade com uma escala humana muito confortável e que pode ver resolvidos a maior parte dos problemas de mobilidade com a introdução de pequenas melhorias, sendo uma cidade que oferece excelentes oportunidades de intervenção.

Visione o respectivo vídeo da conferêcia através deste link: https://vimeo.com/61342045

Uma resposta to ““O património É DE TODOS””

  1. Madalena Brandão 5 Março+00:00000 às 141130 #

    Filipa está excelente o resumo que fizeste da conferência. Boa!

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