Pensar as acessibilidades é tarefa de todos

10 Jun

Texto e Foto: Inês Maia | Edição: Lisboa (In)Acessível

Inês Maia, autora do texto e foto.

Inês Maia, autora do texto e foto.

Chamo-me Inês Maia, tenho 22 anos e encontro-me a concluir a licenciatura em Sociologia no ISCTE-IUL, em Lisboa. No âmbito da disciplina de Sociologia da Vida Quotidiana, aquando do debate sobre os temas dos trabalhos a desenvolver, o Professor incentivou-nos a alargar horizontes em termos de objectos de estudo, a pensar o que até aí não tínhamos pensado e a transformar em enigmas de investigação o que nos despertava curiosidade. Estava lançado o repto. Com a curiosidade sociológica aguçada aliada ao confronto com as dificuldades de circulação de uma pessoa próxima, que se encontrava na altura a necessitar de muletas para se deslocar, despertei para a temática e surgiu a primeira interrogação: como será circular quotidianamente com mobilidade reduzida  numa cidade como Lisboa?

Aquilo sobre o qual até aí nunca tinha pensado, impôs-se de rompante como uma evidência: os percursos que compõem os meus dias seriam em alguns casos impossíveis de concretizar se circulasse por exemplo numa cadeira de rodas. A partir daí cresceu o caudal de questões que veio a estar na base do trabalho e com ele surgiu o meu despertar para a justeza desta questão: As necessidades de quem tem mobilidade reduzida não andarão esquecidas por quem pensa e planeia a cidade? Como pode Lisboa ser verdadeiramente democrática no que ao usufruto do espaço público diz respeito, se quem circula com limitações na sua mobilidade se depara com tantos obstáculos? Que experiência quotidiana é esta de circular com mobilidade reduzida, por Lisboa? Afinal, como pode esta cidade ser de facto para todos?

Não tenho mobilidade reduzida e, até ter desenvolvido este trabalho, não conhecia ninguém que tivesse. Apesar de ser estudante de sociologia, de estar desperta para um conjunto de problemas sociais e de ter uma participação política activa, sou obrigada a admitir que nunca tinha pensado sobre a questão das acessibilidades. Degraus em praticamente todo o lado, elevadores avariados em estações de metro ou autocarros sem rampas, caixas multibanco demasiado altas, passeios com 2cm de altura ou restaurantes com casas de banho minúsculas não representam de facto obstáculos para mim. Contudo, representam para muitas pessoas que vivem, estudam e trabalham em Lisboa. Aquilo sobre o qual nem parava para pensar são afinal barreiras para quem circula com mobilidade reduzida. Aquilo sobre o qual nem parava para pensar são mecanismos que em muitos casos discriminam e excluem quem tem todo o direito ao usufruto da cidade. E se me apercebi que assim é, então pensar as acessibilidades passou também a ser tarefa minha. É necessário, e urgente, que todos despertemos e nos sensibilizemos perante esta questão. Todos. Com e sem mobilidade reduzida. Porque participar nesta batalha é defender a igualdade e o respeito pelo outro; é exigir dignidade, independência e autonomia para a vida de quem tem mobilidade reduzida; é construir Lisboa como uma cidade verdadeiramente para todos.

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